Três livros das Sagradas Escrituras possuem autoria atribuída a Salomão. Cada um deles delimita uma fase bem peculiar da história do autor. Impossível dissociar nossas experiências de nossas obras. Sim, todos temos obras. Alguns escrevem livros, outros constroem edifícios, outros abraçam e confortam. Salomão resolveu, além de edificar, escrever.
Em sua juventude nos apresentou Cantares, registro precioso de coração apaixonado por uma bela moça. Seus sentimentos são arrebatados pelo fascínio, suas palavras entregam-se ao charme. Tempos depois, já crescido, em sua fase adulta, o rei escreve Provérbios, maior compêndio de sabedoria já editado em todo mundo. Lições preciosas, práticas e carregadas de maturidade peculiar.
Por fim, ele produz sua obra mais emblemática. Não estamos mais diante de um jovem apaixonado, tampouco de um adulto maduro. Salomão agora já possui cabelos brancos, seu rosto está sinalizado pelo tempo, suas memórias são fortes e sua experiência reforçada. Ele chegou no que chamamos de “terceira idade” (perdoem-me o clichê). Ou melhor, corrigindo, Salomão passou para o “Vida e Movimento”.
O que é, portanto, o livro de Eclesiastes? Respondo: é um mapa. Um mapa do homem que percorreu todos os caminhos possíveis da vida, planejou diversas caminhadas, pegou alguns atalhos e, respaldado por sua experiência, convida seus leitores a observar seu percurso.
Nesse tempo precioso em que a sociedade comemora o “Dia Internacional do Idoso”, é propício agradecer a Deus pela preciosa vida daqueles que possuem um mapa em suas mãos. Ah, como precisamos desse mapa! Como nós – os que ainda não vivemos tanto – precisamos de direção, conselho, afago, instrução.
Você que lê este texto e já passou dos sessenta, por favor, perdoe-me a pretensão. Não tenho o mapa, tenho apenas algumas ideias em construção. Preciso de vocês. Precisamos de vocês. Oro e trabalho por um ambiente de fé onde os idosos sejam respeitados, amados e ouvidos. Mais do que cuidar deles, precisamos ser cuidados por eles.
Uma igreja não prospera sem a benção de seus anciões. Precisamos desse mapa para viver, esse mesmo que vocês desenharam durante a vida com lágrimas, sorrisos, erros e acertos. Privilégio nosso compartilhar da companhia de vocês e caminhar pelas trilhas que vocês já desbravaram e construíram.
Um mapa! Isso é o último livro escrito por Salomão. Nada mais, nada menos. “Trilhei todos esses caminhos aqui e vi que não deram em nada.” Mas também “percorri esses aqui e fui bem-sucedido”, diria o velho rei. Então: mãos à obra, há muitas pessoas sem direção precisando de uma dose de direção. Vamos juntos descobrir que não há como se aposentar da felicidade.
Feliz Dia Internacional do Idoso – 1º de outubro
Pr. Raphael Abdalla